outro dia
Quem me ouve
e quem me lê
julga, às vezes,
que eu fui como os ricos...
que tive e que dei,
que desprezei
e que desbaratei...
Ó, nada tive!
Nada recebi
e nada dei.
Outros julgam
que eu fui como os pobres,
que mendiguei...
Nem como esses fui!
Os pobres pedem
e aceitam.
Eu nada aceitei.
Nada conheci!
Vivi sempre como os cegos,
de olhos abertos,
parados
e abstractos...
Todos me magoam!
Uns porque acham ridícula
a minha pobreza,
outros porque duvidam
da minha singeleza.
(1991: 156-157)