domingo, 12 de abril de 2009


outro dia



Quem me ouve
e quem me lê
julga, às vezes,
que eu fui como os ricos...
que tive e que dei,
que desprezei
e que desbaratei...

Ó, nada tive!
Nada recebi
e nada dei.

Outros julgam
que eu fui como os pobres,
que mendiguei...

Nem como esses fui!
Os pobres pedem
e aceitam.

Eu nada aceitei.
Nada conheci!
Vivi sempre como os cegos,
de olhos abertos,
parados
e abstractos...

Todos me magoam!
Uns porque acham ridícula
a minha pobreza,
outros porque duvidam
da minha singeleza.

(1991: 156-157)