«Há muito quem gabe o gosto de partir e eu mesma já o tenho invejado. Aqui há não sei quantos anos a minha vontade era partir, ter saudades, deixar isto, não assentar o pé, ir voando. Já se sabe que era a fantasia que me levava. O mundo era pequeno e pouco para mim...
Hoje penso que partir é muito custoso. Partir é deixar um bem ou um mal, real e conhecido, pelo vago sem delimitação. Vai-se vivendo e tudo se nos vai restringindo. Aquilo que se não conhece, como será? Teremos defesa, resistência, não haverá surpresas, lutas, incapacidades de acomodação?
E aquele antepartir, aqueles dias de desarreigar, de pensar no cá e no lá!...»
(1999: 41)