domingo, 12 de abril de 2009


outro dia



Voltei.
Para lá,
com esta mania nova
de amar as ruas,
de cultivar nelas
a minha solidão,
deliberei:
hei-de voltar por aquela…
Era uma rua barriguda,
quieta e escura.
Mas, por fim,
voltei pela mesma,
tão decepcionada
e tão desconsolada!
¿Que me importam as ruas?
Ainda não havia lua.
Estimei.
Só as estrelas discretas,
Sempre longínquas,
me falavam
me acenavam…
¡Que desamparada, que triste!
Falar para estranhos…
sem qualquer retribuição…
E depois voltar,
pausadamente,
secamente,
solitariamente,
perdida por estas ruas sombrias…
¡Vãs queixas, vãs queixas!
Tudo isto é natural.
Ir, voltar
e nunca nada encontrar…

Oiço passos no saibro,
ou na terra solta da rua,
(que não é calçada)
e sinto-me inquieta.
Inquieta não sei se é.
Sinto passos,
os passos de quem passa,
ou se aproxima!
E eu pensei…
francamente pensei
que no dia,
ou na noite de hoje…
Não sei que pensei!
Desejei,
calculei,
fiz suposições,
esperei…
juro que esperei…
Nada, nada!
Noite corre, deriva,
gasta-te como todas as outras,
todas, todas, todas…
¡Noites, dias,
eternidade e vacuidade!

¡Hei-de matar este coração!

(1991: 86-87)